top of page

Rua Honduras

Ocupada pela Frente de Luta pela Moradia (FLM), o casarão da rua Honduras se localiza no Jardins, um dos bairros mais caros de São Paulo, e é residência de muitos idosos que não tem onde morar, mas o imóvel desagrada os vizinhos.

Endereço sem Número
Filha de Maria
O Estranho Vizinho da Frente

“Essa gente é estranha demais! Quase nunca ouço barulho, vejo luz acesa... Parece que ninguém mora aí. Essa gente deve viver entocada, porque nunca vi aqui na rua", diz Sônia assim que perguntada sobre a casa ocupada em frente a sua, na rua José Clemente. Moradora do Jardim Paulista há 20 anos, a vizinha ainda reage com estranhamento à ideia de viver de frente a uma casa com bandeiras da FLM.

 

Sônia, inclusive, é membro da AME Jardins, uma espécie de associação que reúne os moradores dos jardins Paulista, América e Europa, bairros de alto padrão nos quais as casas podem facilmente ultrapassar os 3 R$ milhões. Mesmo tentando agir com desfaçatez ao fato, deixou transparecer o incômodo de ver os ‘forasteiros’ tão perto.

A casa velha tem lá seus requintes. Apesar da pintura descascada, dos muros pichados e sujos, e dos canteiros secos e pouco floridos, a arquitetura relembra os casarões paulistanos da década de 1950, com o pé direito alto e janelas grandes de madeira. Do jardim em extinção restam algumas árvores que provém a sombra necessária para a pele ressecada e fininha daqueles que ali moram.

 

Há seis meses a casa de esquina entre as ruas Honduras e José Clemente voltou a ser ocupada. Atualmente, 27 pessoas habitam o espaço de 210 m² no qual todos dormem no chão, com colchões dispostos como em um acampamento. A maior parte dos residentes são idosos. Mas nem sempre foi assim. Desde maio, a rotatividade na ocupação foi grande segundo relatam os próprios moradores.

Silvia Morais, de 59 anos, só tem motivos para agradecer. Dona de olhos azuis e um olhar profundo, cabelos finos e desgrenhados, cuja tinta loira já se mistura com os fios brancos, a mulher de voz rouca entonação baixa admite que não sabe o que seria de sua vida sem Maria. A Maria do Planalto, uma das coordenadoras da Frente de Luta por Moradia (FLM) e organizadora da ocupação na rua Honduras.

 

Mineira de Belo Horizonte, Silvia perdeu os pais ainda na adolescência e passou a ser criada pelos avós. Quando completou a maioridade, mudou-se para São Paulo e começou a trabalhar e morar com os tios, donos de uma pequena fábrica de tecelagem no Brás. As mais de 15 horas por dia na máquina de costura eram recompensadas com o pagamento de R$ 300,00 mensais e um quarto nos fundos da casa dos familiares.

 

 

bottom of page