top of page

O Estranho Vizinho da Frente

“Essa gente é estranha demais! Quase nunca ouço barulho, vejo luz acesa... Parece que ninguém mora aí. Essa gente deve viver entocada, porque nunca vi aqui na rua", diz Sônia assim que perguntada sobre a casa ocupada em frente a sua, na rua José Clemente. Moradora do Jardim Paulista há 20 anos, a vizinha ainda reage com estranhamento à ideia de viver de frente a uma casa com bandeiras da FLM.

 

Sônia, inclusive, é membro da AME Jardins, uma espécie de associação que reúne os moradores dos jardins Paulista, América e Europa, bairros de alto padrão nos quais as casas podem facilmente ultrapassar os 3 R$ milhões. Mesmo tentando agir com desfaçatez ao fato, deixou transparecer o incômodo de ver os ‘forasteiros’ tão perto. “Nada contra a questão das moradias, até porque faço parte de uma associação de moradores, mas aquelas pessoas não pertencem a esse lugar”, falou sem o menor constrangimento ao se referir aos ocupantes.

 

Em meio às grades, cercas, câmeras e muros, a casa da esquina destoa de todas, mas mesmo assim passa despercebida pelos transeuntes. O muro baixo é exceção dentre as ‘fortalezas’ vizinhas. No bairro em que o metro quadrado de terreno vale R$ 6 mil, não tem preço que pague a desconfiança de dona Sônia. “Tô pra ver qualquer dia algum ladrão se esconder nesse quintal aí e assaltar alguém da gente. É muito exposto, ninguém cuida desse lugar”, reclamava.

 

O que Sônia não sabe, no entanto, é que desde que a casa começou a ser ocupada pela FLM, mendigos que costumavam invadir a casa e depreda-la aos poucos não tiveram mais lugar. A presença do coletivo ameaça para a vizinha, mas é segurança daqueles que ali moram e cuidam do espaço.

bottom of page